quarta-feira, 23 de maio de 2012

Saúde na Baixada = CAOS!

Serviços de saúde na Baixada deixam cidadãos entregues à própria sorte

População sofre para ter atendimento médico digno nas unidades hospitalares
A Baixada Fluminense sempre teve um problema crônico na área de saúde. As histórias de descaso e abandono se multiplicam no decorrer dos anos. A população até acreditou que com a recente política do governo estadual de Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e a inauguração de unidades especializadas, os cidadãos da Baixada esperavam enfim um atendimento digno.Mas isto nunca ocorreu. O que acontece hoje na Baixada é o clássico caso do “cobrir a cabeça e descobrir os pés, pois ao mesmo tempo em que UPA’s são prometidas, e uma minoria inaugurada, emergências e postos de saúde são fechados ou funcionam sem nenhuma condição.
Meu filho foi mordido por um cachorro e a médica pediu para ele esperar dez dias para tomar a vacina. Fui à UPA e não tinha vacina, fui ao Posto de Saúde de Nova Cidade e não tinha médico”
O caso mais recente vem de Nilópolis, onde o Hospital Melchiades Calazans, que foi inaugurado com toda pompa e circunstância, não faz atendimento de emergência. Um hospital enorme que possui os melhores equipamentos e não atende de uma forma geral a população. O questionamento dos moradores é que o dinheiro gasto no hospital poderia ser utilizado no Hospital Municipal Juscelino Kubitschek, que durante anos serviu a população precariamente. Serviu porque hoje o hospital não tem mais serviço de emergência. “Pediatra aqui só terça e quinta. Se a criança passar mal na segunda, no domingo ou em qualquer outro dia ela morre. Meu filho foi mordido por um cachorro e a médica pediu para ele esperar dez dias para tomar a vacina. Fui à UPA e não tinha vacina, fui ao Posto de Saúde de Nova Cidade e não tinha médico”, relatou Rafaeli Braga mãe de duas crianças, enquanto esperava atendimento. O senhor Luiz Carlos define bem a situação da saúde nilopolitana, “Nós contamos com o fator sorte, tem dia que está funcionando e tem dia que não está”.
Outro fato que gerou uma grande expectativa foi a inauguração da UPA, mas após a festa de inauguração, com direito a protesto de professores e governador chamando manifestantes de vagabundos, o que se vê no dia a dia é a confirmação da necessidade de políticas efetivas na área da saúde. A unidade de saúde, que está com menos de dois meses em funcionamento, começa a ficar sobrecarregada. Segundo a Diretora da Unidade, Drª Cláudia Bacellar, eles estão atendendo cerca de 300 a 400 pacientes por dia, mas é importante ressaltar que nas UPA’s o registro de atendimento é feito antes de o atendimento ser realizado. Também há muitas reclamações pela demora no atendimento e pacientes que não conseguem ser atendidos. Isto, segundo Dr ª Cláudia é justificável pelo perfil da UPA. “O que precisa ficar claro é que a UPA é para atendimento de emergência e não é para atendimento ambulatórial. Não tem ortopedista, e nenhuma UPA do Rio de Janeiro tem. Mas nós sempre fazemos o primeiro atendimento, tiramos a radiografia e encaminhamos. Muitas pessoas vêm aqui para atendimento ambulatorial e nós atendemos primeiramente os emergenciais”. A coordenadora de enfermagem, Márcia Gomes de Azevedo afirma que o atendimento é bem feito, mas a demora é inevitável, “Vem pessoas aqui de vários municípios, até moradores de Queimados, mas estamos trabalhando em conjunto com outros hospitais e unidades de atendimento.” A UPA que possui, em regime de escala, dentista, pediatra e assistente social se tornou a única referência de saúde em raio de mais de 300 mil habitantes. O que se vê em Nilópolis é o reflexo de políticas públicas que não priorizaram a saúde e agora sofrem com o acúmulo dos problemas.
Mas o caos da saúde infelizmente não é só em Nilópolis, recentemente o órgão da ONU condenou o Brasil, pela morte de Alyne da Silva Pimentel, que faleceu após esperar horas por atendimento em hospital de Belford Roxo. A cidade do amor, como ficou conhecida, não demonstra nenhum tipo de afeição por seus moradores, que reclamam desde a falta de viaturas de suporte avançado até da ausência de médicos, enfermeiros e condutores. O Hospital Jorge Júlio Costa dos Santos, ou Hospital Joca no bairro Piam, freqüentemente é alvo de manifestações e protestos. Muitos médicos e enfermeiros deixaram o hospital pelo baixo salário.
Outro município que sofre com este problema é Mesquita, que possui poucas unidades de saúde. A principal é a unidade Mário Bento, localizada no bairro de Jacutinga, que era um posto de saúde, mas foi transformado em unidade de saúde após o fechamento do Hospital Municipal. Segundo denúncias de moradores, a unidade sofre com falta de médicos e de remédios e até mesmo de material de curativo. Estas afirmações são rebatidas pelo secretário municipal de saúde Alexandre Lima Olivares, “A Unidade Básica de Saúde, que recebeu o apelido de ‘hospital’, oferece um bom atendimento e a procura está abaixo do esperado. Queremos uma unidade para atendimento de bairros do outro lado da cidade, como Chatuba. Por isso estamos juntos com o estado na perspectiva de abertura da UPA.” Uma comissão integrada por vereadores cobrou da prefeitura a data de inauguração, já que a UPA apesar de pronta não tem data para ser aberto, o secretário explica a situação “Como todos sabem a UPA é do Estado. E cabe a Secretaria de Saúde do Estado agendar a inauguração. Nós continuamos aguardando”. Não resta então outra opção aos moradores da Baixada Fluminense, aguardar a ação do poder público, enfim contar com a sorte.
UPA NÃO RESOLVE O PROBLEMA
O grande número de pessoas lotam as Unidades por falta de hospitais
Criadas pelo atual governo do estado, as Unidades de Pronto Atendimento, seriam uma ponte entre o Posto de Saúde e o Hospital. Mas desde sua criação vem enfrentando diversos problemas. Falta de médicos e maus atendimentos são as queixas mais recorrentes. A falta de pediatra é a mais sentida. A situação piora muito nos final de semana e feriados, quando o número de médicos e profissionais de saúde cai drasticamente. Para aqueles que precisam de atendimento a incerteza é sempre muito grande. Em muitos casos os pacientes são orientados a procurar outro local. Um grande problema é que em muitas cidades e bairros, a UPA virou o “hospital oficial”, só que a unidade não foi concebida para isso. Ou seja, há sempre muitas pessoas para poucos médicos, leitos e espaço. Pois com a abertura da unidade muitos municípios fecharam seus hospitais e unidades de atendimento sobrecarregando assim todo o sistema. Alguns municípios, inclusive, não estão conseguindo manter suas UPA’s abertas, já que o Governo do Estado entra apenas com a estrutura, mas a manutenção é gasto municipal, e aí muito não conseguem bancar salários e estrutura. A UPA então, tem se tornado um fósforo que tenta iluminar a situação da saúde, que por sua vez, se encontra em densas trevas. No início ele até brilha um pouco, mas depois de um tempo inevitavelmente se apaga.
Sérgio Cabral quer legalizar jogo de azar para financiar a saúde
Para ele, seria uma forma de aumentar a fonte de arrecadação para vários setores, inclusive a saúde pública.
Durante a inauguração da nova sede da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), no centro da cidade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) defendeu a legalização do jogo no País. Ele ressaltou que seria importante utilizar o dinheiro que gira em torno desses eventos e aplicá-lo em setores como a saúde, cultura ou em obras sociais.
“Acho que no Brasil, se aberto e legalizado, ele (o jogo) poderia ser uma fonte de financiamento importante para tanta coisa. Cada país usa um modelo de aplicação desses recursos. Mas todos aplicam em áreas nobres dos serviços públicos. É um lamento que a gente não possa modificar isso, e ter jogos legalizados, organizados, controlados e com o dinheiro bem aplicado”, afirmou.
Fonte: Jornal Panorama - 23/05/2012

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